segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nossa Senhora das Dores nas origens de Juazeiro do Norte – por Armando Lopes Rafael (*)

Assunção Gonçalves, artista plástica e descendente do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, mostra foto da primeira imagem venerada como padroeira de Juazeiro do Norte. (foto de Elizângela Santos)



1. Introdução

Podemos afirmar, com toda segurança, que a cidade de Juazeiro do Norte teve início como fruto da devoção a Nossa Senhora das Dores. Embora a maioria das pessoas atribua ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte, renomados historiadores afirmam ter sido o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro o fundador do núcleo primitivo, que deu origem da atual cidade.
Amália Xavier de Oliveira, no livro O Padre Cícero que eu conheci, esclarece o que motivou a construção de uma capela na Fazenda de propriedade do Brigadeiro Leandro.

Ordenara-se sacerdote, o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novem sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da fazenda, perto da casa já existente. (OLIVEIRA, 1981:33-34)

A capela foi consagrada a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem foi trazida de Portugal
. (id.:35)

Deve-se, pois, ao Brigadeiro Leandro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – ainda conhecida por Tabuleiro Grande – com a edificação da Casa Grande, de uma capela, além de residências para os escravos e agregados da família. A realidade histórica nos mostra: quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, em 11 de abril de 1872, como sexto capelão, já encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores.




Contava o lugarejo, à época da chegada deste sacerdote, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande. No povoado – à época da chegada do Padre Cícero – residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves. É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela Beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”.



2. A primitiva imagem da Mãe das Dores



A imagenzinha de Nossa Senhora das Dores – adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, em Portugal – foi venerada como padroeira da Fazenda Tabuleiro Grande e, posteriormente, pela povoação do “Joaseiro”, por cerca de 60 anos. Zélia Pinheiro, escrevendo – no opúsculo Sesquicentenário de Fé – sobre a inauguração, em 19 de agosto de 1884, da nova capela de “Joaseiro”, esta já construída pelo Padre Cícero, em substituição à primitiva, edificada pelo Brigadeiro, narra:
(…) Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores e fora colocada no Altar a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887, quando foi trocada pela imagem que até hoje está lá. (ZÉLIA PINHEIRO, 1977:26).


Bom esclarecer que a atual imagem – ora pontificando no altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores – foi adquirida pelo Padre Cícero a fim de substituir a primeira imagem, esta adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra. A atual imagem somente chegou a Juazeiro em 1887, proveniente da França. A pequena imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, chamada antigamente pelo povo de “Carita”, encontra-se em perfeito estado de conservação. Ela, por questão de segurança, é guardada na Casa Paroquial. Geralmente é exposta à veneração dos fiéis nas duas grandes procissões anuais: a de 2 de fevereiro (Nossa Senhora das Candeias) e 15 de setembro (Nossa Senhora das Dores).

(*) Armando Lopes Rafael é historiador


Bibliografia:
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3ª ed. Recife: Editora Massangana, 1981, 332 p.
PINHEIRO, Zélia. Sesquicentenário da Fé – Juazeiro do Norte – Ceará – 1827 a 1977. Crato (CE), 1977. 50 p.

2 comentários:

  1. Parabéns, Armando rafael.

    Creio que falo por mim e por nossos outros leitores e colaboradores que ficamos muito felizes com essa publicação. No tempo devido irei trazendo dos outros Blogs aquilo que já foi escrito sobre a História do Cariri.

    Abraços,

    Dihelson Mendonça

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  2. Prezado Armando, sobre a origem do Juazeiro li certa vez, não lembro onde: "Padre Pedro Ribeiro o fundador, Padre Cícero, o edificador".

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