sábado, 8 de fevereiro de 2020

As duas últimas fotos de Dom Vicente Matos, tiradas no dia que ele deixou a cidade de Crato (*)




      O dia era 11 de junho de 1992.

      Naquela data, Dom Vicente de Paulo Araújo Matos completou 74 anos de idade. Há 37 anos residia em Crato. Primeiro, foi Bispo-Auxiliar (de 1955 a 1959). Depois, com a renúncia de Dom Francisco de Assis Pires, Dom Vicente foi  Administrador Diocesano (1959 a 1960) ou Vigário Capitular, como se chamava à época; De 22 de janeiro de 1961 (quando foi nomeado Bispo Diocesano) até 1º de junho de 1992 (quando renunciou ao bispado por problemas de saúde) foi o 3º Bispo de Crato. Depois da renúncia, ainda permaneceu em Crato até 11 de junho do mesmo mês, preparando o transporte dos seus objetos pessoais para levá-los a Fortaleza, onde fixou residência até sua morte, ocorrida em 06 de dezembro de 1998.

      Voltemos à manhã do dia 11 de junho de 1992. No alpendre do antigo Palácio Episcopal, área voltada para o grande quintal (onde hoje se ergue a Cúria Diocesana Bom Pastor), Dom Vicente Matos  (portando a vestimenta episcopal) recebeu poucas pessoas que foram se despedir dele. Depois, subiu pela última vez as escadas que davam ao seu quarto, localizado na parte superior da casa, vestiu um terno simples e iniciou sua viagem para Fortaleza.

        Como era do seu natural, Dom Vicente estava tranquilo, mas emocionado. Nos quase 600 quilômetros, que separam Crato de Fortaleza, ele deve ter rememorado os 37 longos anos vividos no Cariri. Onde continua a ser o maior benfeitor da região. Onde não deu um único passo que não fosse voltado para difundir o bem e a verdade. E onde recebeu muitas calúnias e ingratidões, as quais – por ser uma alma de escol e um homem superior – soube perdoar.

         Deus permitiu que o demônio tentasse joeirar a boa obra de Dom Vicente, igual ao trigo que, para ficar puro, tem de ser joeirado.  O sofrimento que os algozes de Dom Vicente lhe impingiram, serviu para que o terceiro Bispo de Crato se santificasse. E como “O tempo é o Senhor da razão”, hoje está sendo construída a maior avenida de Crato, a qual,  partindo do bairro Mirandão, e terminando no monumento de Nossa Senhora de Fátima, foi denominada oficialmente de Avenida Dom Vicente de Paulo Araújo Matos.

(*) Essas 2 fotos foram feitas pelo Prof. Paulo Tasso Teixeira Mendes, hoje residente em João Pessoa (PB).

Postado por Armando Lopes Rafael

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Lançamento do livro "Cidade dos meus sonhos", do Prof. João Pierre


O Prof. João Teófilo Pierre lançou neste dia 6 de fevereiro de 2020, o seu 22º livro, "A cidade dos meus sonhos". A solenidade ocorreu no Instituto Cultural do Cariri, e a apresentação foi feita pelo Prof. Armando Lopes Rafael. Confira abaixo a apresentação.


      Meses atrás, João Teófilo Pierre enviou-me e-mail, pedindo que eu escrevesse o prefácio deste seu livro “Cidade dos meus Sonhos”. Honrado pela escolha, fi-lo com alegria. Naquele prefácio – que vocês poderão ler a partir da página 17, do mencionado livro – escrevi apenas o ritual costumeiramente exigido para um prefácio: as explicações resumidas sobre conteúdo do livro; seus objetivos; além de comentários sobre a produção literária do autor.

    Agora, convocado a fazer – para esta seleta plateia – a apresentação da mesma obra, creio que devo acrescentar breves considerações adicionais sobre o Prof. João Pierre. Admiro nele a missão que se autoimpôs:  elevar e divulgar o nome de Crato, quando as oportunidades surgem. E isso não vem de agora. Há cerca de 50 anos, e para citar um único trabalho dele, à época Secretário Municipal de Cultura, João Pierre – remontando visões de passado e antevendo as do futuro – tornou realidade o Museu de Artes Vicente Leite, instituição que – até dez anos atrás – era o orgulho desta Cidade de Frei Carlos.  Portanto, o Prof, João Pierre aqui se apresenta portando experiências de vida, bem como   serviços prestados a esta comunidade.

       Relembro que João Teófilo Pierre é um homem viajado. O conhecimento de novas sociedades, com suas visões de vida, proporcionou-lhe vislumbrar novos horizontes para Crato. Ainda jovem, João Pierre foi enviado para estudar em Roma, a Cidade Eterna. Lá ele viveu alguns anos. Não conheço ninguém que tendo conhecido Roma não fique apaixonado, pelo resto da vida, por aquela cidade. 

          No entanto, foi outra a cidade que arrebatou o coração de João Pierre.  Sua paixão intensa (que perdura da juventude aos dias atuais), é por um pequeno centro urbano, localizado no interior do Ceará. Sim, este mesmo que os nossos primeiros professores nos ensinaram a exaltar como “A flor da terra do sol; o berço esplêndido dos guerreiros da "Tribo Cariri". Pois é esta mesma comunidade, também denominada de “Cratinho de Açúcar”, pelas pessoas simples das periferias e do supedâneo da Chapada do Araripe.  (Outro dia me adverti de que, nos meus tempos de criança, essa gente simples e boa, a que me referi, era chamada pela carinhosa expressão de “povinho”. Hoje, pela força da mídia, pouco confiável, diga-se de passagem, aquela expressão “povinho” foi transmudada para a grosseira palavra “povão”).

    João Pierre nos ensinou – já há algum tempo – várias lições de vida. Uma delas, a de que somos criadores da nossa própria história. Atraímos muita coisa para inserir na nossa própria vida. Se nos caminhos percorridos você encontra algo maravilhoso, ou se acha que à sua volta há muita coisa boa, será isso que você colherá nos seus dias de vida.

      Permitam-me ler um trechinho, bem pequeno, do livro: “Histórias para aquecer o coração”, de Jack Canfield, onde ele transcreve uma historinha contada por Willy McNamara”

“Um viajante, ao se aproximar de uma cidade grande, perguntou a uma mulher sentada à beira da estrada:
– Como são as pessoas nessa cidade?
(A mulher perguntou)
– Como são as pessoas no lugar de onde você vem?
– Uma gente horrível – respondeu o viajante. – Pessoas egoístas, em quem não se pode confiar, detestáveis sob todos os aspectos.
– Ah – disse a mulher –, você vai achar o mesmo tipo de gente por aqui.
O homem mal tinha se afastado quando outro viajante parou e fez à mulher a mesma pergunta, curioso sobre os habitantes da cidade.
Mais uma vez, a mulher quis saber como eram os habitantes da cidade de onde vinha o homem.
– Pessoas boas, honestas, trabalhadoras e compreensivas com os outros e com elas mesmas – respondeu o segundo viajante.
A sábia mulher retrucou:
– Pois é esse mesmo tipo de gente que você vai encontrar por aqui”.

(Até aqui palavras de Willy McNamara).

     Mas voltemos aos sentimentos nobres do Prof. João. Admira-nos como ele mantém um amor fiel a Crato. Talvez por ser a terra dos seus “primeiros alumbramentos”, utilizando essa expressão usada por Manuel Bandeira, para exaltar a cidade de Recife, cortada pelos rios, sob um céu líquido de azul.

   É tocante o amor que João Pierre tem pelo Crato. A palavra amor é velha; o sentimento, mais velho ainda. E embora desgastada pelo uso, e pela mentalidade coletiva dos tempos atuais, o amor é, no entanto, a palavra mais adequada para definirmos o sentimento que habita no coração de João Pierre, por tudo que ele faz pelo Crato.

   A exaltação de João Teófilo Pierre a nossa cidade é a temática recorrente de sua já vasta produção literária. Um amor também presente nos pronunciamentos que ele fez e continua fazendo, bem como nas suas ações mais corriqueiras. Ainda hoje, ele mantém sua casa na Rua Carolino Sucupira, onde gosta de sentir a alegria de abri-la, observa-la, e, em seguida, fechá-la, num ritual que sempre faz quando vem a Crato.

    Uma rotina como a marcar sua conduta de cidadão e do homem público que foi, quando exerceu os cargos de secretário municipal e vice-prefeito de Crato, nos anos da década 70. Corroborando ser verdade aquela frase da Bíblia – constante do Evangelho de Mateus – de que “A boca fala do que está cheio o coração.” 

   Esses bons e nobres sentimentos, tornaram-se uma característica marcante da personalidade de João Teófilo Pierre. E ele sabe repassar, com simplicidade e profundidade, tudo o que lhe vai no coração. 

    Ainda bem que João teve consciência e sensibilidade de saber que as boas palavras e os bons sentimentos não devem ser trancados dentro de si. Antes, devem ser regados para florir. E, depois de floridos, devem ser socializados com a comunidade, visando unicamente o bem desta. Sem buscar reconhecimento em troca; sem alimentar vaidades efêmeras, nem se preocupar em ouvir louvaminhas, as quais nem sempre são sinceras. João Teófilo Pierre ministra essa liturgia da cidadania, e isso lhe faz feliz.

     Continue assim, professor! Seu sermão silencioso tem observadores e, quiçá, terá seguidores neste seu sentimento afetivo e cívico por sua cidade. E para encerrar, faço minhas as palavras de Júlio Aukav, que caem como uma luva no agir do Prof. João Pierre:

“Seja idealista nos seus sonhos, continue buscando o que realmente lhe faz feliz. Tenha paz em sentimentos na plenitude que honre a razão. Seja luz numa estrada escura. Seja sol num dia sereno. Seja infinito no amanhecer de um dia especial. Tenha certeza de que são as paixões que movem o mundo e não os interesses materiais. Pois somente o amor ilumina um coração puro e idealista”.

        Honra ao mérito! Honra ao nobre professor João Teófilo Pierre.