segunda-feira, 23 de maio de 2011

GEORGE GARDNER : A LONGA ARTE DE UMA VIDA BREVE (Parte II)


George Gardner – Uma Breve Biografia

GEORGE GARDNER, nasceu em maio de 1809 em Ardentinny(Foto 4), na Escócia, onde seu pai , nativo de Aberdeen, atuava como jardineiro para o conde de Dunmore.


Foto 4- Ardenttiny

Quem sabe o sobrenome Gardner não tenha se somado ao da família por conta da atividade profissional do seu genitor? Ele era o segundo filho de uma família humilde. Em 1816 seu pai tornou-se jardineiro em Ardrossan ( a 36 Km de Glasgow e 45 Km de Ardentinny) e lá Gardner freqüentou a escola paroquial até o ano de 1822, quando seus pais mudaram-se para Glasgow( Foto5).

Foto 5 – Glasgow, High Street, Século XIX

Subseqüentemente, ele foi ao interior e passou um tempo considerável explorando as regiões dos diamantes. Ele foi infatigável em sua missão, e suas longas e cansativas jornadas apresentavam freqüentemente aventura e perigo. Cinco anos – de 1836 a 1841 – foram passados no Brasil.
Antes de seu retorno em 1841, ele fez uma visita de despedida à serra dos Órgãos, cujo objetivo, conforme ele narrou em uma de suas cartas, foi para “fazer uma coleção de alguns arbustos finos e plantas herbáceas que eram encontradas nos níveis mais altos”, daquela escalada e levá-las vivas consigo. Depois de ir para o interior, ele encontrou dificuldades em enviar estas plantas sem sofrer algum tipo de danos. Mesmo assim, ele continuou a preservar grandes coleções para o herbário, que, com as sementes e plantas vivas podiam suportar a viagem pelo interior e seriam enviadas assim que houvesse uma oportunidade. Algumas das Melastomaceae, como a Pleroma benthamianum e a multiflora podem ser mencionadas entre o número das que ornamentam toda grande coleção de plantas que coletou.
Fósseis e Medicina
Apesar da botânica ser, naturalmente, sua busca principal, Gardner tinha sempre um olho no que seria de interesse a outros departamentos de história natural – portanto suas coleções foram acrescidas com minerais, conchas fossilizadas ou recentes, peles conservadas de pássaros, peixes, etc. ao mesmo tempo, ele não negligenciou as aquisições de espécies relativas à Medicina. Nas suas jornadas longas, ele sempre carregou seus instrumentos cirúrgicos e fez várias cirurgias importantes com pleno sucesso, as quais não somente melhoraram suas finanças, mas também lhe deram bons amigos – assim assegurando um grau de respeitabilidade, conforto e, em alguns casos, segurança entre as tribos nativas.Imaginem a importância de uma espécie rara como um médico no interior do Brasil, na maior parte das vilas, certamente, terá sido o primeiro esculápio a aportar por ali, até 1789 ( meio século antes da sua chegada ao Rio) o Brasil todo só possuía quatro médicos. Enquanto cuidava de seus trabalhos variados, ele mantinha sua correspondência com regularidade surpreendente, escrevendo freqüentemente para Sir William Hooker e Mr. Murray e ocasionalmente para os mais destacados botânicos estrangeiros da atualidade. Muitos dos seus trabalhos e cartas foram publicados por Sir William no “Jornal de Botânica”. Em um desses trabalhos, datado de 3 de setembro de 1840 e enviado da Província de Minas, ele refere-se à morte do seu generoso patrono, o Duque de Bedford, evidenciando a profunda gratidão pela qual ele foi movido. Nem negligenciou declarações elogiosas à conduta do benfeitor, em sua carta, como também demonstrou muito apreço em relação aos seus amigos de juventude tais como o Dr. Joseph Hooker e a família do Sr. Murray.

Na nova cidade ele foi matriculado na escola gramatical, e, no curso dos seus estudos, adquiriu um bom conhecimento do latim. Logo cedo, ele havia absorvido, provavelmente devido à ocupação do seu pai, um gosto pela botânica, mas foi talvez mais por acidente do que por desígnio que ele, subseqüentemente, devotou a sua vida a esta ciência.

A Medicina
Ele começou seus estudos em medicina na Universidade Andersoniana de Glasgow, e continuou, durante as aulas de verão e inverno de 1829 a 1832 dedicando-se aos seus estudos com zelo e grande perseverança. Terminou por auferir honras acadêmicas de alta distinção. Em 1830 ele entrou para a Sociedade Médica de Glasgow e, durante esse ano, e 1831-32, a sua presença na Real Enfermaria foi muito assídua.

A Botânica
Ainda no meio desses árduos estudos, ele encontrava prazer para entregar-se à sua inclinação primeira : a Botânica. Seus primeiros rudimentos de ciência foram obtidos do Dr. Rattray e continuou a melhorar fazendo passeios de estudos botânicos pelos campos e visitas freqüentes ao Jardim Botânico, junto com o curador deste, o Sr. Stewart Murray com o qual ele criou um elo de amizade que durou até o dia da sua morte. Através do Sr. Murray, descobriu em um dos seus passeios, a rara Nuphar minima ou pulima, no lago Mugdock e tornou-se conhecido de Sir William J. Hooker(Foto6), o eminente professor de botânica da Universidade de Glasgow.

Foto 6 – William Hooker

Então ele passou a freqüentar as aulas de botânica de Sir William que o teve em alta estima, percebendo seu caráter ímpar e seu talento. Como aluno, ele fez várias excursões botânicas às Terras Altas (Highlands) com o professor e sua turma; e a essa intimidade com o professor pode-se atribuir a mudança importante na sua carreira futura.

A Formatura
Gardner obteve seu diploma como cirurgião pela Faculdade de Médicos e Cirurgiões de Glasgow com alta distinção em 1835.

Foto 7 – Universidade de Glasgow
Enquanto isso ele havia se familiarizado, também, com as plantas e flores da Escócia e estudado botânica criptogâmica com tanto sucesso que, em 1836, ele editou um trabalho, intitulado “Musci Britannici ou Herbário de Bolso de Musgos Britanicos”, classificados e nomeados de acordo com a “British Flora” de Hooker. Este trabalho foi recebido com encômios e mostrou-se de grande valor para os estudiosos de musgos. As espécies são graciosamente classificadas e o trabalho alçou importância científica, já que Gardner não só teve acesso livre à esplendida biblioteca de Sir William Hooker, como também alcançou o benefício de sua assistência pessoal.

A Expedição
Uma cópia do “Musci Britannici” havendo chegado às mãos do Duque de Bedford– muito conhecido pelo interesse que demonstrava pela ciência botânica – este se tornou um espécie de Mecenas e encorajou fortemente a sua ambição em proceder a uma missão exploradora no exterior. Após a morte do botânico Drummond, cujos trabalhos no Texas e em partes da América Central haviam enriquecido grandemente o Jardim Botânico Real, os diretores dessa instituição com fins de promover a ciência, se viram na necessidade de empreender acordos e arranjos para excursão de Gardner ao norte do Brasil, a fim de explorar a rica botânica daquele país. Como no caso de Drummond, Sir William Hooker responsabilizou-se em procurar interessados na empreitada, tanto para arcarem com os gastos da missão, como para a receptação das espécies que seriam coletadas. O curador, ao mesmo tempo, concordou em subdividir com equidade as sementes e plantas vivas que seriam enviadas para o país. Muitos jardins botânicos públicos, como também nobres e cavalheiros se fizeram patrocinadores, e assim, por uma quantia irrisória tiveram suas coleções imensamente enriquecidas. Dentre outros, o Duque de Bedford fez-se um contribuinte generoso. Tendo se cumprido todos os trabalhos preliminares para a partida de Gardner, Sua Graça não apenas ofereceu o seu filho, Lord Edward Russel, comandando a estação americana, em seu benefício, como lhe assegurou uma passagem grátis em um dos navios de Sua Majestade . Gardner, porém, educadamente declinou, preferindo a privacidade maior de um navio mercante, onde ele teria o prazer de estudar e, especialmente, melhorar os seus conhecimentos de espanhol e português. Longe de estar ofendido, o duque, magnânimo, enviou um cheque de 50 libras para cobrir a passagem.

J. Flávio Vieira

Um comentário:

  1. Que bom encontrar a biografia deste protestante. Foi assim que ele se apresentou a um pároco na cidade de Icó no Ceará. Ele seguiu as margens do rio Jaguaribe até o Crato e de lá foi ao Piauí. Valeu pela biografia deste ilustre personagem.

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