S. A. T. O. R.
A. R. E. P. O.
T. E. N. E. T.
O. P. E. R. A.
R. O. T. A. S.                                     
(  Palíndromo latino encontrado por Gardner
em Pernambuco, utilizado magicamente para cura
de mordeduras de cobras, significando :
“O Criador mantém cuidadosamente o mundo em usa órbita”)
Inseridos no contexto político-histórico-cultural brasileiro, os habitantes de Pindorama têm a vista um pouco borrada pela beleza circundante. Atores e atrizes da tragicomédia tupiniquim sequer percebemos as mudanças de cenário, de figurino de adereços ao nosso derredor. O distante olhar estrangeiro sempre se mostrou importante para que nós compreendêssemos melhor os caminhos traçados pela jovem Nação Brasileira. O Século XIX(Foto 1)
Foto 1 – Mapa do Brasil Colônia
talvez tenha sido o período de ouro da vinda destes ilustres visitantes  , dentre os quais eminentes naturalistas. O Visconde de Taunay  (1800-1892) compilou algumas destas importantes presenças. Lembremos  alguns: Langsdorff (1803 e 1813);Henry Koster (albor do Século XIX);   Sellow (1814); Saint-Hilaire(1816 a 1822); Spix e Gaudichaud (1817);  Lund(1825); Spruce(1849); Franz Müller(1852); Schwacke(1873) e muitos,   muitos outros. Para o Ceará e especialmente para o Cariri, nenhum destes  viajantes foi tão importante quanto George Gardner ( 1812-1849). Ele  esteve no Cariri entre Setembro de 1838 até os primeiros meses de 1839 e  simplesmente traçou o melhor retrato da nossa região no segundo quartel   do Século XIX. Gardner encontrou um Crato de apenas 2000 habitantes, a  maior parte de índios e mestiços. Presenciou ainda a rebeldia dos  índios cariris e denunciou a vila por sua baixa moralidade e por  perfazer um “esconderijo de assassinos”. A ocupação principal do povo  era o carteado e os dois padres da cidade viviam maritalmente,  com uma  récua de filhos. Descreveu ainda  o primeiro comerciante importante da  cidade de que se tem notícia : “Francisco Dias Azede e Melo”. A  vilazinha possuía, segundo noticiou,  apenas um sobrado e as demais  casas todas térreas. Irineu Pinheiro acredita que este sobrado  provavelmente era na Rua do Pisa , onde nasceu o famoso Padre Cerbelon  Verdeixas. Visitou Gardner alguns engenhos de açúcar, máxime o do  Capitão João Gonçalves e fez uma detalhada descrição do feitio da  rapadura . Ele foi ainda, talvez, o primeiro cientista a explorar os  fósseis caririenses. Os fósseis classificados por George Gardner  chegaram ás mãos do cientista Louis Agassiz(Foto2),
Louis Agassiz (1807-1873)
ainda  em 1841 e este publicou um primeiro estudo sobre os eles: “On The  Fossil Fishes Found by Mr. Gardner in the Province of Ceará in the North  of Brazil”. Não bastasse isto, Gardner relatou uma Festa da Padroeira   N. S. da Conceição e aquele que é o pioneiro relato de uma Banda  Cabaçal.  Reportou-se ainda   àquele que seria o primeiro tratamento  médico na região, quando ele  curou a esposa do Capitão João Gonçalves  de uma Oftalmia. No Cariri visitou ainda  Jardim onde colheu vários  fósseis numa localidade conhecida por Mundo Novo. Em Carta encaminhada  ao presidente da Província de Pernambuco, Francisco Rego Barros- o Conde  da Boa Vista( publicada numa segunda feira, em 16/06/1938, no Diário de  Pernambuco) , ele narra o suicídio coletivo perpetrado pelos  sebastianistas em Pedra Bonita ( hoje, São José do Belmonte, ocorrido  entre 14-18 de Maio de 1838) (Foto 3)
Foto 3: Pedra Bonita palco da tragédia dos sebastianistas,
comandado pelo mameluco João Antônio dos Santos em 1838.
Visitou  ainda Lavras da Mangabeira, as Guaribas, o Brejo Grande ( atual Santana  do Cariri), o Olho D´àgua do Inferno,Poço do Cavalo (cercanias de Nova  Olinda?), Cachoeira (proximidades de Potengi?), Rosário ( arredores de  Araripe?) e finalmente Várzea da Vaca ( atual Campos Sales) . Não tendo  pendores para a pintura, durante todo o percurso fez uma belíssima  descrição literária da viagem, além de pontificar com esmero científico,  aquilo que se tornara sua especialidade,  a grandiosa fauna caririense.  Foi no Cariri, ainda que Gardner sofreu na Fazenda Massapê, na Vila do  Jardim, o acidente mais dramático da sua viagem. Em 03/01/1838, bateu  com a cabeça num galho de árvore, tendo ficado desacordado por vários  dias. Teria este trauma ligação com o possível Acidente Vascular  Cerebral que terminou por ceifar-lhe a vida prematuramente,  dez anos  depois ? 
J. Flávio Vieira
Decerto, a descrição é bastante rica, mas não absoluta, posto que um rincão no interior do Nordeste, é bem imperfeito aos olhos de um erudito europeu. Atine-se para o fato de ele não ter feito muitos amigos no Cariri, segundo suas próprias palavras "Vivi cinco meses no meio desta gente; mas em nenhuma outra parte do Brasil, mesmo durante mais curta residência, fiz menos amigos ou vivi em menos intimidade com os habitantes". Acrescente-se que a população branca e aristocrática, pérola para o europeu, não tinha por hábito residir nos núcleos urbanos, exceto em dias festivos. Por isso, a obra do eminente médico-naturalista goza de respeito do ponto de vista documental, mas não carreia foros de verdade absoluta.
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