Cacá Araújo
Professor, Dramaturgo, Folclorista
O Folclore nordestino é a expressão máxima da fusão de mundos que se deu no doloroso processo de colonização em terras brasileiras. Neste contexto, o Cariri cearense é uma das maiores vitrines da cultura tradicional popular, mostrando raízes profundas e demonstrando resistência e teimosia quando se trata da manifestação de folguedos, brincadeiras e festas tradicionais que nos remetem à nossa ancestralidade.
Às novas gerações deve ser ofertado o banquete das matrizes culturais que podem explicar o passado, consolidar a identidade e fortalecer o espírito de soberania, sentimento de pertença e auto-estima. Os folguedos populares, patrimônios imateriais, são peças fundamentais da antropologia, posto que contam sobre costumes, crenças, comportamento, organização social.
Cientes da importância estratégica da cultura no desenvolvimento da nação, a sociedade e os poderes públicos devem atuar fortemente na organização e defesa das manifestações tradicionais populares, procurando, neste sentido, resgatar, preservar e difundir o Folclore e a Cultura Popular como referências na manutenção e desenvolvimento da alma nordestina e brasileira.
Nós somos um povo plural, como todos os outros, em todos os aspectos, o que não significa dizer que tenhamos que ser depositários do lixo cultural produzido pela humanidade. Ser plural é possuir variadas dimensões numa mesma existência; é contemplar no indivíduo a multiplicidade do espírito e do imaginário formadores da alma do povo, sacralizada e profanada pela mesma mão. Tudo obrado não pelo acaso, mas fruto do amalgamar que os séculos anteriores ofertaram em festa, em guerras, em tempos de bom e de mau humor dos ritos da natureza, dos animais, dos homens, das coisas.
Precisamos fortalecer o movimento em defesa da cultura tradicional popular como forma de resgatar as mais profundas raízes dos povos do sertão nordestino, tomando-as pela universalidade, evidenciando as manifestações que traduzem a variedade de influências que marcaram a alma do nosso povo: o canto, a dança, o verso, a música, a religiosidade, a história.
Nestes tempos de neo-imperialismo, devemos construir um caminho original e naturalmente legítimo de autodeterminação cultural, sem negar as raízes formadoras e afirmando uma cultura própria, resultante desse caldeamento que se insere no contexto histórico e não cessa, ganhando e perdendo novos elementos, seguindo o curso dialético da transformação cotidiana de homens e povos.
Fortaleçamos as trincheiras de combate à agressão cultural perpetrada pelo império dos potentados da economia mundial, que contam com a complacência de muitos agentes da mídia e da política nacional a serviço de interesses estranhos à Nação brasileira.