domingo, 21 de maio de 2023

Visita de membros da Família Bezerra de Menezes ao Instituto Cultural do Cariri -- por Armando Lopes Rafael (*)

 

Brasão da família

   (Discurso de saudação  feito em 20 de maio de 2023, quando da posse de três membros da família Bezerra de Menezes no Instituto Cultural do Cariri).

   Suas presenças nos trazem alegria. E constitui uma honra, para nós do Instituto Cultural do Cariri recebe-los neste sodalício. Benvindos os que vieram de Niterói (RJ): Drs. Geraldo Bezerra de Menezes, Raphael Bezerra de Menezes da Costa, Marcos Bezerra de Menezes e sua esposa, dona Zuleica. Benvindo seja Dr. Flávio Ottoni Penido, oriundo das Minas Gerais, o qual, a exemplo dos seus primos fluminenses, carrega nas veias o sangue generoso e o DNA da família Bezerra de Menezes do Cariri cearense.

A origem desse clã no Cariri
 
    Napoleão Bonaparte dizia que a educação de uma criança começa cem anos antes de ela nascer. Verdade. Somos frutos do ambiente criado por nossos antepassados e das tradições de nossas famílias. O passado tem sobre os homens uma ação que, mesmo não sendo decisiva, é habitualmente importante, ainda que passe despercebida. Difícil resumir o papel e a importância dos Bezerra de Menezes no processo civilizatório do Cariri.
 
    Este clã aqui chegou no alvorecer do século XVIII. Foi, juntamente com outras famílias – antes mesmo do surgimento das primeiras vilas desta região – responsável pelo povoamento do Cariri.  Descendiam os Bezerra de antigas famílias que de Portugal se transportaram para o Brasil. E, no Cariri, à força de trabalho, probidade e ótimos costumes, amealharam um bom patrimônio, passando a constituir a aristocracia da terra. 

   O Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro nasceu em 1740, quando tinha início a Missão do Miranda, embrião da atual cidade de Crato. Naquele ano, sua família Bezerra já habitava, há algum tempo, a Fazenda dos Currais. Esta uma larga extensão de terra. A casa-grande do imóvel ficava no território de Crato, mas a propriedade se espalhava até as terras do atual município de Juazeiro do Norte.

A importância da família
 
          A família é a mais antiga instituição social da humanidade. Até o Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, quando se encarnou para a sua missão salvífica, assumiu a plenitude da natureza humana, nascendo numa família. Por isso a família é chamada a célula mater da sociedade. A família Bezerra de Menezes, desde seus primórdios, modelou-se no Direito Natural. O que é o Direito Natural? Ele advém da natureza das coisas. Teve origem na criação do homem e da Ordem do Universo.  E garante os direitos primordiais para a existência de uma sociedade orgânica e sadia.

    Proporciona, naturalmente, o direito à vida; direito de constituir família, direito à propriedade, ao trabalho, ao salário justo, à cultura, à educação e à prática da religião. O Direito Natural não depende da concessão do Estado. E, dentro desse primado, ficou indelevelmente marcada a presença dos Bezerra de Menezes no processo civilizatório da na sociedade do Cariri.

A Saga dos Bezerra de Menezes

   Dada a exiguidade do tempo, eu resumirei a história dos Bezerra de Menezes, no Cariri cearense, focando três integrantes deste clã. Todos os três, coincidentemente, nascidos nesta Mui Nobre e Heráldica Cidade do Crato de Frei Carlos Maria de Ferrara. Eles são alguns dos ícones dessa admirável família. O primeiro a ser citado é o Patriarca caririense, o lendário Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro. Ele foi, segundo Gustavo Barroso, o primeiro “General-Honorário do Exército Brasileiro”. Essa patente de Brigadeiro lhe foi outorgada pelo Imperador Dom Pedro I, em reconhecimento à lealdade de Leandro e seu clã, prestada à instituição monárquica vigente no Brasil desde o seu descobrimento, em 1500 e até 15 de novembro de 1889, portanto durante 389 anos. A seu tempo, o Brigadeiro se opôs ao efêmero episódio da Revolução Pernambucana de 1817, ocorrido nas cidades de Crato e Jardim.

     Antes de receber o título de Brigadeiro, Leandro já era possuidor da patente de Coronel–Comandante do Regimento de Cavalaria de Milícias do Crato. Era reconhecido como o maior e mais importante proprietário rural do Vale do Cariri. A verdadeira História o reconhece, também, como o Fundador da cidade de Juazeiro do Norte. O Brigadeiro Leandro foi, enfim, uma liderança respeitável naqueles tempos primevos da sociedade caririense. Um resumo do perfil moral do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, foi feito – com maestria e fidelidade – pelo respeitável historiador, Mons. Francisco Holanda Montenegro quando escreveu:

 “... a relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco, sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o equilíbrio e o bom senso”. (Livro “As Quatro Sergipanas”, página 62, edição Universidade Federal do Ceará, 1996)

O segundo ícone
 
    Faço referência ao segundo Bezerra de Menezes. Tinha o mesmo nome do seu avô, citado acima: Dr. Leandro Bezerra Monteiro.  O segundo foi advogado, político de destaque no Parlamento do Império brasileiro. A cidade de Crato o homenageou com a denominação de uma das ruas desta cidade. O Instituto Cultural do Cariri fê-lo Patrono de uma cadeira deste Sodalício. Formado em Pernambuco, migrou, após a formatura, para a Província de Sergipe del Rey. Lá, foi Juiz e deputado provincial. Nessa última função, Dr. Leandro foi um dos proponentes do projeto para a construção da nova capital da Província de Sergipe – a atual cidade de Aracaju – a primeira cidade planejada no Brasil.

    Eleito, depois, Deputado Geral (hoje correspondente a Deputado Federal) para o Parlamento da Monarquia, Dr. Leandro Bezerra Monteiro teve brilhante carreira política, encerrada por vontade própria. Ele ficou desgostoso com o golpe militar de 15 de novembro de 1889, que implantou a República no Brasil, sem consulta e sem apoio do povo. Dr. Leandro Bezerra Monteiro fixou residência em Niterói e dele adveio o ramo dos Bezerra de Menezes na terra fluminense.

     Detentor de uma vida – particular e pública – exemplar, deixou seu nome registrado numa grande efeméride da história brasileira, na sua atuação contra o Presidente do Conselho de Ministros do Segundo Reinado, o Visconde do Rio Branco. Este, perseguiu, àquela época, os Bispos de Pernambuco, Dom Frei Vital Maria de Oliveira, e o Bispo do Pará, Dom Antônio Macedo Costa.  Ambos foram defendidos – na Tribuna do Parlamento Imperial e nas páginas dos jornais – com coragem e destemor, pelo Deputado Leandro Bezerra Monteiro. Esse episódio figura nas páginas da nossa História com o título de “A Questão Religiosa”.

O terceiro ícone
 
    Cito, por fim, um terceiro Bezerra de Menezes. Este, o mais conhecido desse clã em todo o Brasil. Ele foi escolhido, pela população deste Estado – numa consulta popular realizada em 2000 – como “O Cearense do Século”.  Recentemente foi aberto, pela Igreja Católica, o seu Processo de Beatificação, por ordem expressa do Papa Francisco, ora em curso na Diocese de Crato, com o objetivo de levá-lo à glória dos altares. Dias atrás ele teve seu nome aprovado, pela Câmara dos Deputados, inscrevendo-o no Livro dos Heróis e Heroínas do Panteão da Pátria Brasileira. Refiro-me à figura, por todos os títulos respeitáveis, do Padre Cícero Romão Batista, que é um legítimo Bezerra de Menezes.   Segundo acuradas pesquisas feitas pelos ilustres historiadores Daniel Walker de Almeida Marques e Antônio Renato Soares de Casimiro, ficou provado que alguns ancestrais do Pe. Cícero pertenciam à Família Bezerra de Menezes.  A conferir.

"Por conseguinte, o Pe. Cícero Romão Baptista é um Bezerra de Menezes. Neste caso, sem nenhuma dúvida, este parentesco com os povoadores do Sítio Joazeiro se verifica bilateralmente, pelos lados materno e paterno". (Livro “A Família Bezerra de Menezes–Fundação e Desenvolvimento de Juazeiro do Norte”, páginas 23/24, ABC Editora, Fortaleza, 2011)

Minhas Senhoras e meus Senhores,

   Cabe relembrar ao final: O velho Brigadeiro Leandro é o tronco de outros importantes clãs, cujos descendentes se espalham, pelo Brasil, com os sobrenomes de Bezerra de Menezes, Teles, Pinheiro e Monteiro, formando agrupamentos de famílias pacíficas e honradas, que se destacaram em vários ramos profissionais.  Aliás, e vale o registro, tanto o Presidente do Instituto Cultural do Cariri, Dr. José Flávio Pinheiro, como o Vice-presidente, Dr. Marcos Bezerra Cunha, descendem do tronco fundado pelo Brigadeiro Leandro. Por isso e por tantas outras coisas os Bezerra de Menezes foram importantes para a história do Cariri.

(*) Armando Lopes Rafael, historiador. Sócio do Instituto Cultural do Cariri e Membro-    Correspondente da  Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris, de Salvador (BA).

domingo, 7 de maio de 2023

Sinal de esperança do Reino de Maria - por Plinio Corrêa de Oliveira

 

Ícone de Nossa Senhora de Iverskaya, mostrando - no rosto dela e do Menino Jesus - os tiros que lhes foram desferidos pelos revolucionários russos, no dia 13 de maio de 1917

   Uma das mais importantes coleções de ícones — pinturas religiosas típicas do Oriente — existentes na Europa, e talvez no mundo, encontra-se na pequena cidade de Torrejón de Ardoz, não longe de Madri. Ali, na antiga granja do Colégio Jesuíta de Santo Isidro, é que o nobre Sérgio Otzoup instalou seu Museu de Ícones. [...] 

   Se percorrermos as dependências de La Casa Grande, e penetrarmos no Museu de ícones, uma pintura da Mãe de Deus chama especialmente a atenção: a Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica. 

   Nela, a Mãe de Deus é representada tendo em seu braço esquerdo o Menino Jesus, com a majestade de quem se assenta em seu trono natural. É em Maria que encontra Jesus suas complacências. A Virgem, ao mesmo tempo que sustém com todo cuidado e proteção o Menino Deus, com o braço direito indica ao fiel ser Ele o modelo de todas as perfeições e o Juiz supremo de todas as causas. Como Medianeira Universal de todas as graças que é, seu terno olhar volta-se para cada devoto que se apresenta a seus pés invocando sua intercessão e confiando em seu amparo. 

   A harmonia, a doçura que se desprendem da pintura — toda feita de cores em que predominam o vermelho e o dourado, mas suaves e matizadas — são contrariadas violentamente ao observarmos nela alguns furos ocasionados por balas de fuzil. Percebem-se marcas claríssimas de fuzilamento, tanto no rosto da Mãe quanto no do Filho!

   Esse fato tão insólito encontra sua explicação em passado ainda recente. Sua data? 13 de maio de 1917! 

   Sim. Enquanto em Fátima Nossa Senhora aparecia pela primeira vez, dando início a uma série de manifestações em que profetizava a expansão dos erros da Rússia pelo mundo inteiro, como açoite pelos pecados do gênero humano, e prometia o triunfo final de Seu Coração Imaculado, em Moscou, essa profanação era cometida durante os distúrbios que precederam à revolução bolchevista.

   Infelizmente, como se sabe, com o cisma do, Oriente, pequeno foi o número dos fiéis que, no Império dos Czares, continuaram a manter sua fidelidade ao trono de São Pedro. [...] Tudo leva a crer que esse culto a Nossa Senhora é anterior à ruptura daquela nação com Roma. Tendo até, quem sabe, um significado auspicioso para a conversão da Rússia, anunciada na mensagem de Fátima. 

   Dentro do cisma, a Virgem Santíssima continuou ainda a ser cultuada — se bem que fora da verdadeira Igreja de Cristo — em muitos santuários, e por meio de vários ícones espalhados por todo aquele vasto território. Entre estes, destacava-se o da Virgem Ibérica, que é padroeira de Moscou, e cujo nome tinha sua origem na Ibéria, região do sul da Rússia, na zona do Cáucaso. Essa pintura de Maria ficava exposta numa pequena capela na entrada do Kremlin.

   Deposto o Czar, durante a efêmera regência do Príncipe Lvov, sob o governo de Kerensky, a capela de tal forma foi destruída naquele dia 13 de maio do ano da Revolução comunista, que dela não restou pedra sobre pedra. O ícone da Virgem Iverskaia foi fuzilado e consta que chorou ao ser profanado! Considerada perdida durante esses meses que antecederam a revolução bolchevista, a pintura da Mãe de Deus pôde ser conservada juntamente com outros tantos ícones, graças a Sérgio Otzoup, que em dezembro de 1918 conseguiu retirá-los da Rússia.

   Hoje, exposta no Museu de Ícones de La Casa Grande, a Virgem Iverskaia — profanada por ódio à Religião — permanece como sinal de esperança, sobretudo para a Rússia e também para o mundo, da nova era prometida por Nossa Senhora em Fátima, e profetizada por São Luis Maria Grignion de Montfort — o extraordinário missionário francês do século XVII — como sendo o reino de Maria!

(Excertos do artigo “Virgem Iveskaya, esperança de conversão para a Rússia”, escrito pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira e publicado na revista “Catolicismo”, Ano XXXVI, N° 425, maio de 1986, na página 20)