segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crato Republicano? Algumas Considerações… por Armando Lopes Rafael


(Excertos de um artigo publicado há 10 anos na revista A Província – nº 18, 2000)

Alguns escritores locais citam, vez por outra, a “tradição republicana” de Crato. Não acredito nessa alardeada “tradição”. Mas quero deixar claro que receberei com naturalidade, toda correção que vierem a fazer a este meu pensamento.

Começo por lembrar que o aniversário do golpe militar que implantou a República nunca foi comemorado em Crato. Nesta cidade o povo comemora datas como o 7 de setembro, 21 de Junho, Nossa Senhora da Penha, São José, São Francisco, dentre outras.
Comemoração no dia 15 de Novembro – data da “Proclamação da República” – nunca vi.
O Crato, durante 149 anos (de 1740 quando foi fundado a 1889, quando houve o golpe militar que introduziu a forma de governo republicana) viveu sob a Monarquia. Não se apaga facilmente um século e meio na vida de um povo. No imaginário popular persiste a idéia de que a Monarquia é algo bom. O historiador cratense Denizard Macedo escreveu[1] : “O povo tinha apego aos soberanos e aversão às manobras revolucionárias. Diferente do que alguns tentam demonstrar existia uma tradição moldada na fé católica e na monarquia absoluta, com seus princípios, escala de valores, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover esta herança cultural profundamente enraizada no tempo”.


Isso é verdade, ainda hoje quando o povo reconhece numa pessoa certos méritos ou qualidades acima do comum, costuma dar-lhe o título de “Rei”. Por isso temos ou tivemos; “O Rei Pelé”, “O Rei Roberto Carlos”, “O Rei do Baião”, “O Príncipe dos Poetas Populares” (o repentista Pedro Bandeira) etc. E o que dizer dos concursos que se realizam para escolha da “Rainha do Colégio”, “Rainha da Exposição”? e de nomes de lojas como “O Rei da Feijoada”, “O Império das Tintas”? Ou nomes como “Rádio Princesa FM”, “Colégio Pequeno Príncipe”?


Portanto, é um mito sem consistência essa alardeada “tradição republicana” de Crato. Precisamos ter coragem para proclamar isto, pois ela não reflete a realidade. Ainda não se conseguiu sensibilizar as camadas populares para comemorar, em Crato, o golpe militar que impôs no Brasil a República. Sempre foi assim. Vai ser assim, também, na próxima 2ª feira, dia 15 de novembro, quando o país vai parar – num feriado nacional – em comemoração à “Proclamação da República”.


República” para o povo é sinônimo de casa de estudante, com a desorganização e improvisação comum aos jovens. Ou serve para lembrar as notícias que vêm da Capital da República como os escândalos de corrupção na Casa Civil. “República” continua a ser, no imaginário popular, a lembrança da falta de segurança, a falência da saúde pública, a precariedade da educação pública, a fila dos aposentados (expostos ao sol e à chuva) na fila das calçadas dos Bancos para receber suas míseras aposentadorias, os políticos corruptos, as obras públicas inacabadas, a demagogia e a falta de respeito para com a população…

[1]Notas Preliminares no livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, de J.dias da Rocha, 2ª Ed. Secretaria de Cultura do Ceará, 1978.

Texto e postagem de Armando Lopes Rafael