domingo, 7 de maio de 2023

Sinal de esperança do Reino de Maria - por Plinio Corrêa de Oliveira

 

Ícone de Nossa Senhora de Iverskaya, mostrando - no rosto dela e do Menino Jesus - os tiros que lhes foram desferidos pelos revolucionários russos, no dia 13 de maio de 1917

   Uma das mais importantes coleções de ícones — pinturas religiosas típicas do Oriente — existentes na Europa, e talvez no mundo, encontra-se na pequena cidade de Torrejón de Ardoz, não longe de Madri. Ali, na antiga granja do Colégio Jesuíta de Santo Isidro, é que o nobre Sérgio Otzoup instalou seu Museu de Ícones. [...] 

   Se percorrermos as dependências de La Casa Grande, e penetrarmos no Museu de ícones, uma pintura da Mãe de Deus chama especialmente a atenção: a Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica. 

   Nela, a Mãe de Deus é representada tendo em seu braço esquerdo o Menino Jesus, com a majestade de quem se assenta em seu trono natural. É em Maria que encontra Jesus suas complacências. A Virgem, ao mesmo tempo que sustém com todo cuidado e proteção o Menino Deus, com o braço direito indica ao fiel ser Ele o modelo de todas as perfeições e o Juiz supremo de todas as causas. Como Medianeira Universal de todas as graças que é, seu terno olhar volta-se para cada devoto que se apresenta a seus pés invocando sua intercessão e confiando em seu amparo. 

   A harmonia, a doçura que se desprendem da pintura — toda feita de cores em que predominam o vermelho e o dourado, mas suaves e matizadas — são contrariadas violentamente ao observarmos nela alguns furos ocasionados por balas de fuzil. Percebem-se marcas claríssimas de fuzilamento, tanto no rosto da Mãe quanto no do Filho!

   Esse fato tão insólito encontra sua explicação em passado ainda recente. Sua data? 13 de maio de 1917! 

   Sim. Enquanto em Fátima Nossa Senhora aparecia pela primeira vez, dando início a uma série de manifestações em que profetizava a expansão dos erros da Rússia pelo mundo inteiro, como açoite pelos pecados do gênero humano, e prometia o triunfo final de Seu Coração Imaculado, em Moscou, essa profanação era cometida durante os distúrbios que precederam à revolução bolchevista.

   Infelizmente, como se sabe, com o cisma do, Oriente, pequeno foi o número dos fiéis que, no Império dos Czares, continuaram a manter sua fidelidade ao trono de São Pedro. [...] Tudo leva a crer que esse culto a Nossa Senhora é anterior à ruptura daquela nação com Roma. Tendo até, quem sabe, um significado auspicioso para a conversão da Rússia, anunciada na mensagem de Fátima. 

   Dentro do cisma, a Virgem Santíssima continuou ainda a ser cultuada — se bem que fora da verdadeira Igreja de Cristo — em muitos santuários, e por meio de vários ícones espalhados por todo aquele vasto território. Entre estes, destacava-se o da Virgem Ibérica, que é padroeira de Moscou, e cujo nome tinha sua origem na Ibéria, região do sul da Rússia, na zona do Cáucaso. Essa pintura de Maria ficava exposta numa pequena capela na entrada do Kremlin.

   Deposto o Czar, durante a efêmera regência do Príncipe Lvov, sob o governo de Kerensky, a capela de tal forma foi destruída naquele dia 13 de maio do ano da Revolução comunista, que dela não restou pedra sobre pedra. O ícone da Virgem Iverskaia foi fuzilado e consta que chorou ao ser profanado! Considerada perdida durante esses meses que antecederam a revolução bolchevista, a pintura da Mãe de Deus pôde ser conservada juntamente com outros tantos ícones, graças a Sérgio Otzoup, que em dezembro de 1918 conseguiu retirá-los da Rússia.

   Hoje, exposta no Museu de Ícones de La Casa Grande, a Virgem Iverskaia — profanada por ódio à Religião — permanece como sinal de esperança, sobretudo para a Rússia e também para o mundo, da nova era prometida por Nossa Senhora em Fátima, e profetizada por São Luis Maria Grignion de Montfort — o extraordinário missionário francês do século XVII — como sendo o reino de Maria!

(Excertos do artigo “Virgem Iveskaya, esperança de conversão para a Rússia”, escrito pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira e publicado na revista “Catolicismo”, Ano XXXVI, N° 425, maio de 1986, na página 20)