A última coroa dos Reis de Portugal foi confeccionada no Brasil, em 1818
Há uma curiosidade sobre a coroa dos reis e rainhas de Portugal. Eles não a usavam à cabeça. De 1640 até 1910 (quando a monarquia portuguesa foi derrubada pelos carbonários, que assassinaram -- em 1908 -- o Rei Dom Manuel II e o seu filho, o herdeiro do trono, Príncipe Dom Carlos, com apenas 18 anos de idade), nas solenidades de coroação essa coroa ficava pousada, numa almofada, ao lado do novo rei ou rainha, e não na cabeça do novo soberano.
Esta tradição foi iniciada com a Restauração da Independência Portuguesa, em 1º de dezembro de 1640, quando o Rei Dom João IV colocou a coroa real aos pés da imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa – Padroeira de Portugal – afirmando que a Virgem Maria era a verdadeira Rainha da nação lusitana e de suas colônias, dentre as quais o Brasil. Esse gesto de Dom João IV foi seguido por seus sucessores até 1910, quando foi imposto o regime republicano aos portugueses, após o assassinato do Rei e seu herdeiro, em 1908.
No entanto, as coroas, para investidura de novos soberanos portugueses, continuaram sendo confeccionadas, a partir de 1640. A última feita – para a subida de Dom João VI ao trono, em 6 de fevereiro de 1818 – foi confeccionada no Rio de Janeiro, pois no Brasil morava a Família Real Portuguesa.
Esta coroa é guardada hoje numa das maiores caixas-fortes do Mundo, atrás de duas portas de cinco toneladas, e muito raramente é exposta (em solenidades especiais) no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, onde funciona o Museu do Tesouro Real. Portugal conserva, em vários aspectos, a herança da sua gloriosa monarquia, cuja lembrança permanece viva na memória das novas gerações....
Bandeira do Reino de Portugal
(*)Armando Lopes Rafael é historiador. Sócio do Instituto Cultural do Cariri e membro-correspondente da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris, de Salvador (BA).