sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Afinal, o que é essa devoção a "Nossa Senhora das Lágrimas" tão difundida nos últimos tempos?

   (Parte 1) 

 

  Nossa Senhora das Lágrimas como apareceu à Irmã  Amália  Aguirre:
véu branco cobrindo o peito; manto azul e túnica lilás

Primeiro ponto:  

  Repondo a verdade dos fatos: esta devoção não está sendo apenas difundida nos dias atuais. Ela tem quase cem anos de existência. Na verdade, a “Coroa das Lágrimas de Nossa Senhora” é uma devoção religiosa católica que resultou das várias aparições feitas – pela Virgem Maria –   à Irmã Amália Aguirre, freira da Congregação das Irmãs de Jesus Crucificado, ocorridas no convento da congregação, cuja sede é a cidade de Campinas, no Estado de São Paulo. Essa aparição da qual vamos falar ocorreu em 8 de março de 1930.

  Essa “Coroa” (nome que lhe foi dado  pela Virgem Maria) é um “rosário especial”,  mostrado na data acima citada, por Nossa Senhora à Irmã Amália. Ela consiste na recitação de um conjunto de jaculatórias (ou seja, orações brevíssimas, com poucas palavras), jaculatórias ensinadas --  anteriormente à aparição da Virgem Maria, no dia 8 de março de 1930 --  pelo próprio Jesus Cristo à  Irmã Amália.

 O que disse Nossa Senhora à Irmã Amália na aparição o dia 8 de março de 1930? Depois de mostrar-lhe um "terço" (totalmente branco, cuja contas, segundo Irmã Amália, eram brilhantes do que a luz do sol e mais alvas do que a neve), formado por sete divisões (ou  "setenas"),ou seja,  7 contas ao ao invés das 10 contas de cada  "místério"  do terço atual, a Santíssima Virgem Maria disse:

    "Este é o rosário de Minhas lágrimas que foi prometido pelo Meu Filho ao nosso querido Instituto [das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado]  como uma parte de seu legado. Ele também já lhe deu as orações. Meu Filho quer me honrar especialmente com essas invocações e, além disso, Ele concederá todos os favores que forem pedidos pelos merecimentos de Minhas lágrimas. Este rosário alcançará a conversão de muitos pecadores, especialmente dos possuídos pelo demônio. Uma especial graça está reservada para o Instituto de Jesus Crucificado, principalmente à conversão de vários membros de uma parte dissidente da Igreja. Por meio deste rosário o demônio será derrotado e o poder do inferno destruído. Arme-se para a grande batalha.". 

Segundo Ponto:

    

 E por que a reza das “Coroa das Lágrimas de Nossa Senhora” está crescendo tanto nos dias atuais?  Porque numas das aparições à Irmã Amália Nossa Senhora disse:


“O Brasil me pertence, sobre ele estendi o meu manto protetor; porém é necessário que este povo venha a mim, entrando em minha arca, para poder assim se livrar esta terra de ser regada com sangue dos mártires! (...) Eu sou a Rainha dos Brasileiros e os salvarei, se me reconhecerem como tal, recorrendo a mim, como filhos submissos e obedientes das leis da Santa Igreja. Óh! eu salvarei o Brasil, se todos os dias ouvir nos lares: 'Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre.' Óh! se todos os brasileiros repetirem: 'Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte!...'

Salvarei o Brasil, se ouvir em todas as casas ao menos uma jaculatória de minha Coroa das Lágrimas: 'Óh! Virgem Dolorosíssima, Vossas Lágrimas derrubaram o império infernal!' e assim falo, é porque desejo ver esta Terra de Santa Cruz triunfar de seus adversários, que desejam implantar o terrível inimigo, que já tomou conta de outras terras, que não me reconhecem como Mãe! Sou Mãe, sou Rainha dos Brasileiros, portanto, todos os que desejam ser bons brasileiros que venham a mim, e a vitória será nossa, porém, se eles se afastarem da Rainha, perecerão!”

Terceiro Ponto

    Atravessando o pântano das dificuldades que ora enfrentamos, entende-se porque a Coroa das Lágrimas de Nossa Senhora tornou-se a última esperança do Brasil não virar uma segunda Venezuela ou uma segunda Nicarágua...

Postado por Armando Lopes Rafael



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Em que casa nasceu o Padre Cícero? -- por Armando Lopes Rafael (*)

 

Atual Cúria Diocesana Bom Pastor de Crato

     No século passado corriam duas versões no tocante à casa onde teria nascido, em Crato, o Padre Cícero Romão Batista. Uma das versões – defendida por Irineu Pinheiro – dizia que o sacerdote teria vindo ao mundo numa casa localizada, à época, na Rua Miguel Limaverde. Aquela residência pertenceu ao coronel Pedro Pinheiro Bezerra de Menezes, um parente do Padre Cícero. Tal casa foi, posteriormente, desmembrada em duas residências. Ambas demolidas, na década 1980, por ocasião do alargamento da Rua Miguel Limaverde. Naquela década, muitos imóveis foram derrubados – na citada rua – numa fúria insana para destruir o que restava do patrimônio arquitetônico do Crato. A justificativa para essa destruição? Aumentar o espaço para o tráfego de veículos automotores pelo centro de Crato.

   Irineu Pinheiro escreveu sua versão baseada num depoimento, que lhe foi dado por uma ex-escrava da família do Padre Cícero, conhecida como “Teresinha do Padre”. Entretanto, em 1955, o historiador Pe. Antônio Gomes de Araújo publicou um artigo na revista “Itaytera”, nº 5, órgão oficial do Instituto Cultural do Cariri, contestando a versão de Irineu Pinheiro. Segundo Pe. Gomes, Cícero Romão Batista nasceu numa modesta casinha de sítio, cercada por árvores fruteiras, localizada próximo à atual Praça da Sé. Para ser mais preciso: Padre Cícero teria nascido no exato local onde funcionou o antigo Palácio Episcopal, hoje ocupado pela Cúria Diocesana de Crato.

      Na versão defendida por Pe. Antônio Gomes de Araújo, ele escreveu: “Teresa do Padre (quando fez a declaração a Irineu Pinheiro) já começava a mergulhar no crepúsculo da própria memória, cuja desintegração começara”. Ou seja, a boa velhinha, caminhando para os cem anos de idade, já não dominava mais a própria memória. Bom ressaltar, no entanto, que Teresa do Padre sempre foi  reconhecida, em Juazeiro do Norte, como uma senhora virtuosa e de credibilidade.  Ademais, Pe. Antônio Gomes de Araújo fez ainda constar – no seu artigo citado – um depoimento que lhe foi prestado pelo cônego Climério Correia de Macedo. Este declarou ao Pe. Gomes: “Minha tia paterna, Missias Correia de Macedo, cortou o cordão umbilical do Padre Cícero numa casa que foi substituída pelo (atual) palácio de Dom Francisco". O cônego referia-se ao antigo Palácio Episcopal, construído por Dom Francisco de Assis Pires – segundo bispo da Diocese do Crato – prédio onde   hoje funciona a Cúria Diocesana.

Outras pessoas concordaram com a versão do Pe. Gomes

   Reforçando a opinião do Pe. Gomes – sobre a casa onde teria nascido o Padre Cícero – recebi, tempos atrás, do escritor e historiador Dr. José Luís Araújo Lira, residente em Sobral, a cópia de uma página do jornal “Unitário” – que circulava em Fortaleza no século passado – edição de 16 de outubro de 1959. A página contém uma pequena nota que passo a transcrever abaixo, nos mesmos termos, tal como foi escrito. A conferir. 

“Juazeiro do Norte: debates sobre a casa em que nasceu Padre Cícero
JUAZEIRO (Valter Barbosa) – A imprensa publicou e nós por intermédio da mesma aplaudimos o gesto daquele que pesquisou e afirmou que o Padre Cícero Romão Batista havia nascido à Rua Dr. Miguel Limaverde nº 19 devendo ser colocada uma placa com dizeres alusivos ao Patriarca do Sertão. Acontece que o assunto mereceu a atenção de todos e passou a ser discutido publicamente.

Nossa reportagem, a fim de manter em dia os leitores com especialidade a colônia caririense em Fortaleza, resolveu ouvir pessoas que tenham autoridade para afirmar tal acontecimento em busca da verdade. Falou a nossa reportagem o Sr. Bruno de Alencar Peixoto, agricultor cratense, que afirmou ter o Padre Cícero nascido em uma casa (por sinal ele também lá nascera) localizada onde hoje é o Palácio Diocesano (nota do transcritor:  Palácio Episcopal, residência do Bispo de Crato, localizado na Rua Dom Quintino, centro de Crato). E para ilustrar ainda mais a sua afirmativa, acrescentou que suas duas avós, Dona Hortulana da Fonseca Alencar e Dona Amélia Gonçalves Linhares, muitas e muitas vezes o elogiavam por ter nascido na mesma casa onde nascera o fundador de Juazeiro.

O Sr. Odílio Figueiredo, pessoa de destaque da sociedade local, afirmou categoricamente a nossa reportagem que a casa onde nascera o Taumaturgo ficava localizada onde hoje se ergue o Palácio Episcopal, pois em 1919, quando a epidemia que recebeu a denominação de “bailarina”, que dizimou muitas vidas, ele justamente, com Dona Teresinha (moça velha que foi criada na casa do Padre Cícero e que o chamava “senhorzinho”) mostrou-lhe a casa onde veio ao mundo o sacerdote. 

As declarações do Sr. Odílio Figueiredo vieram coincidir com as do Sr. Bruno Peixoto. Mais prático seria já que o povo cratense quer homenagear a memória desse ilustre filho do Crato e ao mesmo tempo observar o valor histórico, mandar confeccionar em alto relevo a exemplo do que existe na (casa) da Mesa de Renda (local onde morara Bárbara de Alencar) uma placa com o desenho da fachada da casa onde realmente nascera o Padre Cícero e colocá-la na fachada do Palácio do Bispo. Então o Crato e Cariri passariam a possuir mais um lugar histórico”.

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    Como se observa, a maioria das pessoas que escreveram sobre a casa apontada como o local de nascimento do Padre Cícero cerram fileira com a opinião defendida pelo Pe. Antônio Gomes de Araújo.

(*) Armando Lopes Rafael é historiador. Membro do Instituto Cultural do Cariri e Sócio-correspondente da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris, de Salvador (BA).